heranças - Rachadura Visual

o livro heranças acontece em diálogo com dois poemas homônimos de Orides Fontela, um de 1973 e outro de 1986. assim que li o de 1986, publicado no livro Rosáceas, tantas memórias foram ativadas.

encontrei Orides já no meio do percurso da escrita, também pudera, escrevo “heranças” há alguns anos. encontrei em seus poemas uma liga para meu livro, epígrafe e até o título.

parece que sou bem fã girl de Orides, né? e sou mesmo encantadíssima com a obra dessa mulher que disse um dia numa entrevista “o maior bem possível é a poesia”. 

não sei a autoria da foto. procurei até e não
achei. mas gosto de pensar em orides assim
como na foto, perto de livros que ela amava.

Herança

Da avó materna:
uma toalha (de batismo).

Do pai:
um martelo
um alicate
uma torquês
duas flautas.

Da mãe:
um pilão
um caldeirão
um lenço.

Orides Fontela (1973)
Orides Fontela (1973)

um pouco mais sobre heranças

em contraste com o poema homônimo de 1986 que citei dias atrás, neste de 1973, Orides me diz que além da concreta, há a herança abstrata. essa, por sua vez, maleável, mutável e suscetível ao esculpir do tempo.

guiada pelos poemas de Orides Fontela, em meu livro heranças deslizo entre memórias de passados que formam a matéria bruta do meu presente. sabe quando dizem “tudo tem a ver com tudo”? 

a divergência de sentimentos que o olhar para trás provoca. mergulhar nas lembranças. fragmentos. alegrias. medos. objetos. sensações. dores. culpas. decepções. conflitos. de ontem, é sabido, alimentam o hoje a colheradas.

o que você gostaria de lembrar do seu passado? o que você gostaria de esquecer? aquela memória que sem pedir licença, sem explicação, chega nítida, turva, imagem, palavra. é bom. é muito bom. é ruim. é dilacerante. e pode ser tudo ao mesmo tempo. 

quanto mais coragem, mais se lembra.
o que fazia sentido antes?
quanto mais coragem, mais se esquece.
o que faz sentido agora? 

sabendo que toda e qualquer vivência tem suas particularidades e diferenças, é no estímulo e na curva da memória que te alcanço. na dicotomia que é lembrar para esquecer.

escrevo para curar. escrevo para lembrar. lembro para mudar. escrever para escolher. subverter o caminho óbvio da herança. descolar o tempo. rejeitar o ontem como quem diz: o presente e o futuro são meus.  

Orides Fontela (1973)
Orides Fontela (1973)

um pouco mais sobre heranças

em contraste com o poema homônimo de 1986 que citei dias atrás, neste de 1973, Orides me diz que além da concreta, há a herança abstrata. essa, por sua vez, maleável, mutável e suscetível ao esculpir do tempo.

guiada pelos poemas de Orides Fontela, em meu livro heranças deslizo entre memórias de passados que formam a matéria bruta do meu presente. sabe quando dizem “tudo tem a ver com tudo”? 

a divergência de sentimentos que o olhar para trás provoca. mergulhar nas lembranças. fragmentos. alegrias. medos. objetos. sensações. dores. culpas. decepções. conflitos. de ontem, é sabido, alimentam o hoje a colheradas.

o que você gostaria de lembrar do seu passado? o que você gostaria de esquecer? aquela memória que sem pedir licença, sem explicação, chega nítida, turva, imagem, palavra. é bom. é muito bom. é ruim. é dilacerante. e pode ser tudo ao mesmo tempo. 

quanto mais coragem, mais se lembra.
o que fazia sentido antes?
quanto mais coragem, mais se esquece.
o que faz sentido agora? 

sabendo que toda e qualquer vivência tem suas particularidades e diferenças, é no estímulo e na curva da memória que te alcanço. na dicotomia que é lembrar para esquecer.

escrevo para curar. escrevo para lembrar. lembro para mudar. escrever para escolher. subverter o caminho óbvio da herança. descolar o tempo. rejeitar o ontem como quem diz: o presente e o futuro são meus.  

o livro heranças acontece em diálogo com dois poemas homônimos de Orides Fontela, um de 1973 e outro de 1986. assim que li o de 1986, publicado no livro Rosáceas, tantas memórias foram ativadas.

encontrei Orides já no meio do percurso da escrita, também pudera, escrevo “heranças” há alguns anos. encontrei em seus poemas uma liga para meu livro, epígrafe e até o título.

parece que sou bem fã girl de Orides, né? e sou mesmo encantadíssima com a obra dessa mulher que disse um dia numa entrevista “o maior bem possível é a poesia”.

não sei a autoria da foto. procurei até e não
achei. mas gosto de pensar em orides assim
como na foto, perto de livros que ela amava.

Herança

Da avó materna:
uma toalha (de batismo).

Do pai:
um martelo
um alicate
uma torquês
duas flautas.

Da mãe:
um pilão
um caldeirão
um lenço.

Orides Fontela (1986)

Orides Fontela (1973)

um pouco mais sobre heranças

em contraste com o poema homônimo de 1986 que citei dias atrás, neste de 1973, Orides me diz que além da concreta, há a herança abstrata. essa, por sua vez, maleável, mutável e suscetível ao esculpir do tempo.

guiada pelos poemas de Orides Fontela, em meu livro heranças deslizo entre memórias de passados que formam a matéria bruta do meu presente. sabe quando dizem “tudo tem a ver com tudo”?

a divergência de sentimentos que o olhar para trás provoca. mergulhar nas lembranças. fragmentos. alegrias. medos. objetos. sensações. dores. culpas. decepções. conflitos. de ontem, é sabido, alimentam o hoje a colheradas.

o que você gostaria de lembrar do seu passado? o que você gostaria de esquecer? aquela memória que sem pedir licença, sem explicação, chega nítida, turva, imagem, palavra. é bom. é muito bom. é ruim. é dilacerante. e pode ser tudo ao mesmo tempo.

quanto mais coragem, mais se lembra.
o que fazia sentido antes?
quanto mais coragem, mais se esquece.
o que faz sentido agora?

sabendo que toda e qualquer vivência tem suas particularidades e diferenças, é no estímulo e na curva da memória que te alcanço. na dicotomia que é lembrar para esquecer.

escrevo para curar. escrevo para lembrar. lembro para mudar. escrever para escolher. subverter o caminho óbvio da herança. descolar o tempo. rejeitar o ontem como quem diz: o presente e o futuro são meus.

posfácio por Francisco Mallmann

depois de atravessar ainda é travessia:
dez gestos com keythe tavares

I
Um posfácio como uma paragem, depois de cruzados os caminhos todos, as páginas anteriores, as imagens, as superfícies da folha, todos os lados que existem na escrita. Parar aqui, um pouco, um tanto. Depois seguir atravessando, atravessadas.

7 herancas keythe tavares site rachadura visual

listar os pecados todos
cometê-los
uma
um

Em seu livro de estreia, Keythe Tavares exercita uma escrita de si que é tomada por diferentes forças: passando pela figura materna e, principalmente, pelos
discursos da igreja, a voz lírica aqui impostada se detém nos detalhes dos espaços, nas conversas do cotidiano, nas frestas dos fatos. O rosto nas tomadas, os dentes amarelados, o pão que não cresce, a toalha com o nome bordado errado. Seria sua certidão de nascimento?

orelha bianca goncalves herancas keythe tavares site rachadura visual zoom

foto de Laís Melo

keythe tavares 

é bem do meio do cerrado, nascida no goiás e criada no tocantins. foi atendente, empacotadeira, cabeleireira, crente, estudante de jornalismo, assistente de padaria, secretária, vendedora de livros, cozinheira, garçonete e a poesia ali, atravessando tudo, objetivo e prumo. hoje, trabalha e vive da escrita, colagens manuais e projetos audiovisuais. em 2020 lançou até o caroço, publicação independente com colagens e poemas desmembráveis pra passar de mão em mão. e agora lança heranças, seu livro de estreia.

keythe tavares 

é bem do meio do cerrado, nascida no goiás e criada no tocantins. foi atendente, empacotadeira, cabeleireira, crente, estudante de jornalismo, assistente de padaria, secretária, vendedora de livros, cozinheira, garçonete e a poesia ali, atravessando tudo, objetivo e prumo. hoje, trabalha e vive da escrita, colagens manuais e projetos audiovisuais. em 2020 lançou até o caroço, publicação independente com colagens e poemas desmembráveis pra passar de mão em mão. e agora lança heranças, seu livro de estreia.

Scroll Up